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terça-feira, 15 de outubro de 2019

Para que serve a Literatura? 4.º Encontro de Bibliotecas Escolares de Almada

Nesta conversa, que teve por base a pergunta Para que serve a Literatura?, a professora de português da ESEN, Amélia Pires, com a escritora Maria João Lopo de Carvalho e a atriz e escritora Ana Lázaro abordaram várias questões colocadas pela moderadora, Eunice Figueiredo, Chefe de Divisão de Bibliotecas e arquivos da CMA.


|Amélia Pires
À pergunta “Para que serve a Literatura?” nenhuma das convidadas apresentou uma resposta concreta, mas todas foram unânimes quanto à importância que a literatura assume no desenvolvimento intelectual e cultural de todos nós.

Na realidade, a literatura torna-nos mais atentos às singularidades e vicissitudes da vida, aproxima-nos, dá-nos uma identidade cultural e nacional. Kafka dizia que um livro deve ser como um “martelo que rompe a espessa camada de gelo” sob a qual nos encobrimos. No momento em que iniciamos a leitura de uma obra ou de um simples poema, modificamo-nos, apropriamo-nos de vivências ficcionais e adquirimos a capacidade de viajar, tal é o poder transformador da literatura.
Quando somos leitores assíduos, exigimos mais de nós e dos outros, desenvolvemos um discurso mais claro, adquirimos uma subtileza de raciocínio e, talvez, uma maior originalidade na forma como encaramos a vida.

No entanto, enquanto leitores e professores temos a noção de que a literatura não é uma prioridade para os nossos alunos. Pelo contrário, para a maioria dos nossos estudantes, seja de que área científica for, a leitura de uma obra é um fardo, uma tarefa hercúlea, da qual se tentam livrar, recorrendo aos mais variados artifícios. Muitos chegam a ler todos os resumos disponíveis, em papel e digitais, para evitar ler a obra proposta. Se a questão “Para que serve a Literatura?” fosse colocada a uma turma, grande parte dos alunos responderia “Não serve para nada!”.

Na realidade, o que os nossos alunos ainda não descobriram é que a literatura serve para tudo. Dá-nos um conhecimento mais profundo e útil da História, da Filosofia, da Psicologia e até das Ciências. A leitura de uma boa obra literária põe-nos em contacto com um mundo de ideias e obriga-nos a realizar interpretações transversais profundas.

Neste sentido, cabe ao professor contrariar estes preconceitos. Talvez o problema não seja despertar o interesse, mas desenvolver a persistência leitora. Enquanto formador, deverá promover o incentivo à leitura para que a obra literária possa interagir com as consciências individuais, promovendo o diálogo sobre a importância e atualidade dos temas tratados.

“A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida.”
Fernando Pessoa

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